Ivana Maria França de
Negri
Era
um garotinho muito esperto e curioso. Certa vez, ouviu falar da iminência de
uma guerra, depois do seu início, e em seguida, pôde sentir todo o seu poder de
devastação.
Achou tudo aquilo horrível. Via
através da televisão, milhares de meninos iguais a ele, passando fome, frio,
feridos, mutilados, perdendo os pais, e tiravam deles os sonhos de um futuro
feliz. E ele não entendia direito o porque dessa tal de guerra.
Um dia, ouviu
uma pessoa importante dizendo num discurso que era necessário plantar sementes
de paz. Gostou daquelas palavras. Então, existia uma árvore da paz? Por que
todo mundo não plantava uma delas no seu jardim ou quintal? Todos os problemas
estariam resolvidos. Era tão fácil ter paz, pensava o garoto.
Decidiu que
haveria de plantar uma árvore da paz. Iniciou a procura pelas tais sementes. Só
que não encontrava uma única pessoa que soubesse das sementes ou que tivesse
visto uma árvore da paz. Ninguém vendia sementes de paz. Alguns até sorriam diante de tanta
ingenuidade, mas ele não desistia do sonho e continuava sua busca.
O avô do
garoto era um homem sábio. A longa vida atribuíra-lhe, além dos cabelos de
neve, experiência e poderes quase mágicos. Condoeu-se da inocência do neto, e
para não desapontá-lo em sua determinação de plantar uma árvore da paz,
presenteou-o com uma caixinha que continha uma semente dourada e redonda. O
menino exultou de alegria. E seus olhinhos brilharam de felicidade. Tinha agora
em seu poder a semente da paz!
Plantou-a com
todo o carinho e aguava a terra todos os dias. Logo viu brotar o primeiro e
frágil galhinho. Era de uma verde suave – cor da esperança – pensou. Em poucos
meses, delicada ramagem vicejava e as folhas se multiplicavam. O avô via com
bons olhos aquela dedicação toda e sabia que algo brotava, junto com a planta,
no coração do seu menino.
No ano seguinte, na árvore frondosa, surgiram
as primeiras flores. Eram brancas, tal como imaginava seriam as flores da paz.
Amava cada vez mais a sua árvore. Reunia os garotos do bairro, os amigos da
escola, e verdadeira romaria vinha em sua modesta casa só para conhecer a
árvore. O mundo podia estar em guerra, mas em sua casa havia paz...
Lia seus
livros preferidos sob a sombra da árvore amiga, balançava até quase chegar às
alturas no balanço que o avô pendurara nos galhos. Sentia o inebriante perfume
das alvas flores, acompanhava o crescimento dos pássaros que construíam seus
ninhos na copa alta e deliciava-se com seu canto e com o cicio das cigarras .
Via pequenas lagartas
transformarem-se, como por milagre, em belíssimas e coloridas borboletas. Tudo
isso recebia de presente da sua árvore da paz. Quando surgiram os primeiros
frutos, doces e deliciosos, chamava os amigos para saborearem juntos e eles
guardavam as douradas sementes e plantavam suas próprias árvores da paz. Quem
bom! Agora multiplicavam-se as árvores da paz.
Quando o amado
avô faleceu, foi sob a sombra acolhedora da árvore solidária que ele encontrou
consolo e paz, pois foi ele quem lhe deu um dia aquela semente cor de ouro, e
sentia que o avô, continuava ali, vivo. Quando o vento soprava entre a
folhagem, era como se o avô assobiasse lindas canções em seu ouvido, e então,
enchia-se de felicidade.
Adulto,
compreendeu a metáfora que o poetavô lhe passara. Agora sabia onde encontrar a
paz: no coração. E saberia como repassar isso ao filho e aos filhos do seu
filho. Essa seria a sua herança, a mesma que recebera do avô naquele dia
longínquo, perdido nas brumas da infância...