Leda Coletti
Baltazar e toda sua família, composta pela mãe, pai e dois irmãos moram
numa pequena escavação próxima à lagoa e
não imaginam que possam viver em outro local.
A margem direita da lagoa é ladeada por uma mata com árvores gigantescas,
e nela os pássaros fazem seus ninhos e cantam livremente. Baltazar e os irmãos
entram nela por uma picada e vão até o local onde se encontra o grande
jequitibá. Tudo com muito cuidado e observando se não aparece algum bicho
perigoso. Têm muito medo das cobras, pois já encontraram uma cascavel dias
atrás. Por sorte havia um buraco perto do jacarandá centenário. Ficaram
escondidinhos até ela sumir pela mata adentro. Trataram de voltar logo para
casa.
Eles passam quase o dia inteiro tomando sol à beira da lagoa, onde buscam
os insetos como alimentos. Mas, eles não são os únicos a passar quase o dia
todo ali. Tem o lagarto, que vaidosamente exibe sua cor verde musgo, além dos
jacarés que quase não se movem, mas que assustam os filhos e amigos do
fazendeiro, quando ali vão passear de bote.
A água dessa lagoa é de um azul que lembra o mar e por isso os moradores
a chamam assim. Pelo fato dos donos do local não permitirem a pesca e nem mesmo
banhos, suas águas são limpas e os peixes aumentam seus cardumes. Por esta
razão é comum os galhos das árvores mais próximas da lagoa, serem habitados por
garças brancas, que em revoadas os disputam.
Dia desses, à noite, os bichos que vivem perto da lagoa ouviram um canto.
Passaram-se muitos dias e os sons musicais continuavam. Em uma noite de lua
cheia, após uma assembleia da bicharada, decidiram desvendar o mistério. Cada
um já preparava a sua defesa, caso fosse necessário intervir e afastar o
desconhecido.
Era tarde da noite e a lua já estava bem alta e iluminava toda lagoa.
Chegaram todos juntos e ficaram olhando próximos da estrada que margeava a
lagoa. De repente, vindo da mata um vulto todo branco veio chegando e, envolta
numa túnica branca, ficou suspensa no meio das águas. Na noite enluarada, as águas da lagoa
refletiam a imagem daquela mulher maravilhosa, que parecia saudar com gestos
suaves e sussurros maviosos a natureza ao seu redor.
Os bichos com um misto de medo e admiração, ficaram em silêncio e não
conseguiam esboçar nenhum gesto de ataque. Ao contrário estavam em êxtase
diante de tão bela cena. Até a lua deveria estar se deleitando com aquele
espetáculo, pois a lagoa resplandecia de luz.
Sem que se dessem conta, o vulto branco resvalou as águas e desapareceu
na mata.
Até hoje os moradores daquele recinto estão tentando descobrir o
paradeiro daquela misteriosa aparição. Seria uma sereia, ou um anjo descido do
céu?
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