quarta-feira, 10 de maio de 2023

Os Sapos da Lagoa Azul

 


Leda Coletti

         O sapo Baltazar está preocupado. Ficou sabendo que o proprietário da fazenda, onde fica a lagoa, sua quase morada fixa, pretende dar um fim nela. A bicharada da vizinhança disse que ele deseja secá-la. 

Baltazar e toda sua família, composta pela mãe, pai e dois irmãos moram numa pequena escavação próxima à lagoa  e não imaginam que possam viver em outro local.

A margem direita da lagoa é ladeada por uma mata com árvores gigantescas, e nela os pássaros fazem seus ninhos e cantam livremente. Baltazar e os irmãos entram nela por uma picada e vão até o local onde se encontra o grande jequitibá. Tudo com muito cuidado e observando se não aparece algum bicho perigoso. Têm muito medo das cobras, pois já encontraram uma cascavel dias atrás. Por sorte havia um buraco perto do jacarandá centenário. Ficaram escondidinhos até ela sumir pela mata adentro. Trataram de voltar logo para casa.   

Eles passam quase o dia inteiro tomando sol à beira da lagoa, onde buscam os insetos como alimentos. Mas, eles não são os únicos a passar quase o dia todo ali. Tem o lagarto, que vaidosamente exibe sua cor verde musgo, além dos jacarés que quase não se movem, mas que assustam os filhos e amigos do fazendeiro, quando ali vão passear de bote.

A água dessa lagoa é de um azul que lembra o mar e por isso os moradores a chamam assim. Pelo fato dos donos do local não permitirem a pesca e nem mesmo banhos, suas águas são limpas e os peixes aumentam seus cardumes. Por esta razão é comum os galhos das árvores mais próximas da lagoa, serem habitados por garças brancas, que em revoadas os disputam.

Dia desses, à noite, os bichos que vivem perto da lagoa ouviram um canto. Passaram-se muitos dias e os sons musicais continuavam. Em uma noite de lua cheia, após uma assembleia da bicharada, decidiram desvendar o mistério. Cada um já preparava a sua defesa, caso fosse necessário intervir e afastar o desconhecido.

Era tarde da noite e a lua já estava bem alta e iluminava toda lagoa. Chegaram todos juntos e ficaram olhando próximos da estrada que margeava a lagoa. De repente, vindo da mata um vulto todo branco veio chegando e, envolta numa túnica branca, ficou suspensa no meio das águas.  Na noite enluarada, as águas da lagoa refletiam a imagem daquela mulher maravilhosa, que parecia saudar com gestos suaves e sussurros maviosos a natureza ao seu redor.

Os bichos com um misto de medo e admiração, ficaram em silêncio e não conseguiam esboçar nenhum gesto de ataque. Ao contrário estavam em êxtase diante de tão bela cena. Até a lua deveria estar se deleitando com aquele espetáculo, pois a lagoa resplandecia de luz.

Sem que se dessem conta, o vulto branco resvalou as águas e desapareceu na mata.

Até hoje os moradores daquele recinto estão tentando descobrir o paradeiro daquela misteriosa aparição. Seria uma sereia, ou um anjo descido do céu?

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