Ivana Maria França de Negri
Nunca houve alguém tão adorável como a boneca Emília, inspirada criação de Monteiro Lobato, a que não tinha “papas na língua”.
No início, apenas uma boneca de pano muda e estática, mas depois de tomar as tais pílulas falantes do doutor Caramujo, abriu a “torneirinha de asneiras” e começou a falar como uma matraca. Tagarela, questionava, teimava e não desistia nunca. Petulante, desafiava todas as normas e viveu sempre à frente do seu tempo.
Não era linda como as bonecas de louça, louras e de olhos azuis, mas sim uma espevitada e impertinente bonequinha de trapo, nas palavras do próprio Lobato.
Falava pelos cotovelos e dizia o que vinha na telha. Interesseira que só ela, casou-se com o Marquês de Rabicó apenas para ganhar o título de nobreza. E virou Marquesa, tudo o que queria. A boneca de retalhos, confeccionada pela Dona Benta para a neta Lúcia, a menina do narizinho arrebitado, mais precisamente Narizinho, era a própria representante do movimento feminista, antes mesmo dele se iniciar.
Dizia de si mesma: “eu sou a independência ou morte!”. Filósofa, costumava afirmar que a verdade era uma espécie de mentira tão bem contada que ninguém desconfiava. Não tinha medo de nada, e sempre se metia onde não era chamada.
Ao visitar os vícios de linguagem encarcerados por Dona Sintaxe, a “impagável” Emília revolta-se ao encontrar o Neologismo entre eles e o solta.
- “ Não mexa, Emília – grita Narizinho. Não mexa na língua que vovó fica danada...”
- Mexo e remexo! replica a boneca batendo o pezinho – e foi e abriu a porta e soltou o Neologismo, dizendo: -“ Vá passear entre os vivos e forme quantas palavras novas quiser!”
Era apenas uma bonequinha de pano, com olhos de linha preta, uma “diabinha”, segundo dona Benta. Mas acabou virando Marquesa graças a sua esperteza e atrevimento. Povoou os sonhos de muitas gerações e continua a ter sua legião de fãs.
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