Ivana Maria França de Negri
Há muitos e muitos séculos, num lugarejo
que nem se sabe ao certo onde se localiza no mapa atual, um jovem casal
perambulava pelas ruas pedregosas à procura de alguma hospedaria, um lugar para
pernoitar e abrigar-se do frio e da chuva.
O ventre avolumado da moça anunciava que
estava em adiantado estado de gestação. Ela ia na garupa de um manso burrinho
que caminhava lentamente. Ao seu lado, o esposo, com os pés descalços e
calejados de tanto pisar sobre seixos, empunhava um cajado a fim de proteger a
quase menina e o precioso fardo que carregava.
Quanto mais batiam em portas, mais negativas
recebiam. Todas as estalagens estavam lotadas, não havia lugar para ficar. A fisionomia
da moça mostrava-se serena, apesar da gravidade da situação. Ela tinha fé que a
providência divina jamais a abandonaria.
As dolorosas contrações ritmadas e cada
vez em intervalos menores, indicavam que o parto não demoraria. Ela colocava as
mãos no ventre sentindo a força da vida querendo romper a barreira da carne.
Alguém indicou uma estrebaria onde havia
muitos animais. O casal se dirigiu para
lá e a moça se aninhou como pôde entre as palhas.
Foi nesse cenário bucólico e campestre
que o menino nasceu inundando de amor o coração daquela mãe de primeira viagem e
do seu companheiro.
Os animais sempre sabem o que muitos
humanos ignoram e o instinto os avisou qual atitude tomar. E pressentindo que algo
especial estava acontecendo, eles se reuniram em volta da criança formando uma
barreira protetora resultante da união de energias e calor, pois a criança não
tinha nenhum pano para a envolver.
Filha de pais humildes, rodeada de
animais, sem riqueza alguma, essa criança fez a diferença para a humanidade. E
por quê?
Tantos reis, faraós e governantes passaram
sobre a Terra. Todos reinaram e
governaram em busca de ouro, poder e glórias.
Alguns, mais bondosos e justos,
conseguiram eternizar seus nomes na História do mundo, mas a maioria dos reis e
reinados viraram pó, se dizimaram assim como as cidades que sua ganância e sede
de poder destruíram em guerras fratricidas, quando milhares de irmãos morreram
por ideais que não eram seus.
Mas o que aquele Menino trouxe, foi a
certeza de que há vida após esta vida. Através de discursos simples e seu exemplo
de humildade e amor ao próximo, Ele arrebatou corações. Trazia esperança às
pessoas. Mensagens como “Amai-vos uns aos
outros”, “Perdoa não sete, mas sete vezes sete o teu irmão que errou”, “Pai,
perdoai-lhes pois não sabem o que fazem","O que queres que os homens façam por ti, faça igualmente por
eles."
E contava parábolas que encantavam: “O reino dos céus é semelhante a um semeador
que saiu espargindo sementes”, “Um
pai recebe o filho pródigo com festas e braços abertos”, “Olhai as aves do céu, que não semeiam, nem ajuntam em celeiros, mas o Pai
as alimenta”.
E até hoje, tantos séculos decorridos
daquela longínqua noite mágica, a mensagem de Amor e Paz perdura e traz
esperança aos corações...
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